A Maldição da Mansão Bly | Crítica

Uma História Sobre Amor e Luto

A Maldição da Mansão Bly ou Bly Manor (2020) foi lançada na primeira sexta-feira do mês de terror pela Netflix. A obra é inspirada no livro de Henry James A Volta do Parafuso e transformada em série por Mike Flanagan, o mesmo responsável pela direção de A Maldição da Residência Hill. Apesar de ambas histórias seguirem a ideia de mansão assombrada, Bly Manor não é uma continuação da trama apresentada em A Maldição da Residência Hill.

Esta adaptação do livro de Henry James mantém o mesmo nome dos personagens principais, mesma localização, mas se passa em outra época; originalmente A Volta do Parafuso era uma história vivida no final do século 19, enquanto a adaptação de Mike Flanagan é ambientada nos anos 80. A Maldição da Mansão Bly conta a história da jovem au pair americana, Dani (Victoria Pedretti) que aceita o emprego em uma mansão isolada em Bly, interior da Inglaterra. Lá vivem Flora (Amelie Bea Smith)e Miles(Benjamin Evan Ainsworth ) os irmãos são órfãos e viviam até então aos cuidados de sua outra babá, Rebecca Jessel (Tahirah Sharif), mas com sua morte ficam mais uma vez abandonados.

À primeira vista Dani encontra um cenário de sonhos apesar do passado de pesadelos dos irmãos. Flora e Milles são crianças extremamente cativantes e parecem ter superado as perdas recentes com bastante maturidade. Além deles, a au pair tem como companhia a governanta da casa,  Mrs. Grose (T’Nia Miller), o cozinheiro Owen (Rahul Kohli) e a jardineira Jamie (Amelia Eve), todos são extremamente calorosos com Dani e em pouco tempo a jovem consegue se sentir em casa. Todavia, A Mansão Bly não é uma casa como outra qualquer e seu passado range sob os pés dos que caminham a noite.

Aos poucos, Dani começa a observar as peculiariadades presentes tanto no comportamento das crianças quanto no ambiente em que passou a viver. Mas a trama não se apresenta como uma história padrão sobre monstros e assombrações e sim, como descrito no livro que deu origem à série, é “de uma feiúra ferrenha e dor e horror”. Portanto, engana-se quem vê o terror como um gênero inferior, ou até sem profundidade. Obras como esta buscam na verdade fazer o leitor ou espectador acessar suas sombras ocultas, reviver emoções e até experimentar sensações novas. Quem diz enxergar no terror superficialidade decerto não está preparado para um mergulho profundo em seus medos internos.

Mais do que uma história sobre medo ou horror, A Maldição da Mansão Bly, assim como sua antecessora, é um conto sobre laços indissolúveis e sobre sentimentos intensos. É sobre a capacidade de caminhar nas sombras em nome de um vínculo e invocarfantasmas que,assim como os vivos, também se dissipam na névoa do tempo.

Mike Flanagan, criador de Bly Manor, é conhecido por suas obras Jogo Perigoso (2018) e Doutor Sono (2019), além da já citada aqui A Maldição da Residência Hill. Suas criações mais bem-sucedidas têm em comum a temática sombria e o jogo entre o sobrenatual e o terror psicológico, explorando traumas e emoções mal digeridas pelos protagonistas e usando-as como ferramenta de terror. Essa estratégia, apesar de não ter sido criada por Mike, consegue atingir visceralmente o espectador, que muito provavelmente não teve nenhuma experiência sobrenatural, mas decerto já teve que lidar com emoções sombrias ou experiências angustiantes ao longo da vida.

Visualmente, a série explora desta vez uma paleta diferente da presente em Residência Hill. Os tons frios de azul e verde deram vez a cartela de marrons e verdes musgo, mesmo que ainda não o suficiente para transmitir calor, mas o suficiente para criar a falsa sensação de aconchego ou familiaridade que o marrom é capaz de provocar. A trilha sonora é mais uma vez impecável, dando o tom da narrativa, ora misteriosa, ora sofrida, assim como a edição que apresenta cortes precisos, provocando a sensação de atordoamento na medida certa, conectando os pontos de forma não linear, porém sem causar qualquer dano a narrativa.

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